terça-feira, 6 de maio de 2008

OPINIÃO: Crise dos alimentos

Inserção das cooperativas no cenário de fluxo de capitais para o Brasil e falta de alimentos no mundo

Cassiano Bragagnolo (*)

A relação estoque/consumo mundial de grande parte dos produtos alimentícios tem diminuído gradualmente ao longo dos últimos anos. Existe unanimidade entre os analistas do agronegócio mundial que o aumento de demanda por alimentos em países emergentes e a expansão dos biocombustíveis foram os principais responsáveis por esta situação que culminou em escassez com conseqüente aumento de preços dos alimentos.

Com o surgimento da supracitada falta de alimentos no mundo, governos, empresas e instituições internacionais têm se posicionado acerca do assunto. Alguns destes atores têm destacado o papel do Brasil como um dos poucos países capazes de dar resposta, com aumento de produção, a esse perverso cenário. Sendo assim, existe grande possibilidade de ganhos para o setor de alimentos mundial, e mais especificamente o brasileiro, que deve estar entre os que mais vão receber investimentos dentre todos os setores da economia nos próximos anos.

Concomitantemente, o Brasil atingiu o "grau de investimento" concedido pela agência Standard & Poor's. Se por um lado o aumento do fluxo de capitais internacionais para o Brasil gerado por este fato reduz as margens de comercialização dos produtores brasileiros, devido à valorização do dólar, por outro, as empresas de capital aberto já vêm colhendo, desde antes da obtenção do "grau de investimento", os benefícios deste fenômeno que deverá aumentar a procura por ações destas empresas e os investimentos estrangeiros diretos.

Corrobora ainda com este fato a incerteza relacionada à conjuntura econômica Norte Americana, que deverá atrair capitais, tradicionalmente direcionados àquele país, para economias de países emergentes.

Dessa forma, é de suma importância que o setor agropecuário brasileiro aproveite a excepcional oportunidade para o agronegócio e para o Brasil, uma vez que a preocupação mundial como os alimentos e o aumento dos investimentos estrangeiros no Brasil devem trazer grande crescimento ao agronegócio brasileiro.

As empresas S/A que possuem capital aberto podem se beneficiar desta situação com grande facilidade, uma vez que recebem aporte de capital via bolsa, onde existe livre acesso de investidores internacionais. Além disso, como já citado, deverá haver aumento nos investimentos estrangeiros diretos nas empresas brasileiras e multinacionais aqui instaladas.

A grande questão que se coloca é se as cooperativas teriam condições de acompanhar este crescimento do setor? As cooperativas estariam perdendo "o bonde da história"? Sabe-se que as principais fontes de investimentos feitos em cooperativas são capital próprio e recursos do de financiamentos.

Tendo como parâmetro o cenário atual de expansão do setor, acredita-se que somente os recursos provenientes destas fontes não serão suficientes para dar suporte ao crescimento das cooperativas na mesma proporção ao que devem experimentar as empresas S/A e multinacionais presentes no Brasil.

Este fato acaba gerando muita dependência das cooperativas em relação às ações tomadas pelo governo. A capacidade do governo de alocar recursos para a agropecuária e para as cooperativas parece estar esgotada. Os recursos do Prodecoop alocados no Plano Safra 2007/08 eram de R$ 450 milhões, foram suplementados com mais R$ 600 milhões, atingindo um total de R$ 1,05 bilhão. Para 2008/09 a previsão de necessidade de recursos pelas cooperativas é de pelo menos R$ 1,2 bilhão.

Com a restrição de recursos para investimento enfrentada pelo setor cooperativista, o esperado crescimento da agropecuária deve ocorrer, principalmente, nas empresas de capital aberto.

Dessa forma, faz-se necessário identificar possíveis formas de captação de recursos externos pelas cooperativas para fazer frente a este imprescindível aporte de recursos, colocando-as em igualdade de condições com empresas S/A.

Uma possível alternativa é a captação de recursos externos com equalização pelo Banco Central, proposta defendida pela Ocepar há algum tempo. Faz-se necessário, também, intensificar as discussões sobre a reforma da Legislação cooperativista, que seria de suma importância neste momento, a fim de modernizá-la no sentido da introdução de ferramentas que possibilitem o acesso das cooperativas a recursos externos. Ademais, instituições como FAO e Banco Mundial já expressaram a sua preocupação com o problema de falta de alimentos, podendo vir a ser fortes parceiros na busca por recursos para expansão do setor cooperativista brasileiro.

(*) Cassiano Bragagnolo - Analista técnico econômico do Sistema Ocepar

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